domingo, 20 de janeiro de 2008

Retratos escritos

"Quem sabe que o tempo está fugindo,
descobre subitamente a beleza única do momento que nunca mais será."

Ninguém se parece mais contigo
Que o teu retrato
Nele, não há a máscara
Que floreia o ato

Não há nada mais belo
Que o teu retrato
Pois nele, não és passível
Nele não és passável

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O retrato, guardador de instantes
Cristalizador dos detalhes
Guardou o tempo para mim
Nele mora, viva e eterna
A hora que não retorna
A hora que não se apaga.

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Ao olhar o retrato
Vi além da minúscula imagem
Que atravessou meus olhos

Vi o segundo que havia acabado de romper
Vi o instante frágil que precedia
O segundo seguinte
A imagem estática revelou-me então
O inconstante e móvel

A figura mostrava-me o movimento exato do vento
Embalando a dança das folhas
Uma folha estava caindo
Mas ainda não havia alcançado o chão
Minha memória sabia somente da folha já caída

Lembro-me que era noite enluarada
Mas só o retrato fiel
Mostrou-me o reflexo da lua
Tremendo na água

Olhar um retrato
é ver sem os nossos olhos
É ver além do retrato
Ver além do campo de visão

Meu olhar lento
Minha mãos pequenas
Não viam, não tocavam
A imensidão daquele instante

Mas a lente sim
Fez do momento, permanente
E me trouxe o que já era passado
Ela devolveu-me o tempo perdido