Há quem se entedie em
cidades pequenas. A mim, me angustiam as grandes cidades, o desacolhimento das largas avenidas, a solidão dos transeuntes, a pressa sem destino, e, por fim,
essa multiplicidade indesfrutável. Para que tantos caminhos diversos se só um
podemos percorrer? A vida na capital e essa necessidade de excessos de quem não
consegue conviver com a doçura de sua pequenez.
Fujo para os parques,
qualquer verde me abranda, mas não é esse verde que preciso, as árvores
cercadas de tanto cimento se entristecem, desbotam a aura, perdem a cor e ganham tom de verde-cinzento/cimento.
Aqui, me
escondo do cinza na pequena Bellavista, basta-me esse mínimo quarteirão no alto
do bairro em Fernando marques de la plata. À esquerda, La Chascona, casa
onde morou Neruda e Matilde, à direita, uma galeria de arte muito simpática que
parece extrair o melhor do lugar. Moro aqui por alguns dias em um quadrado
alto de poesia cercado por casas coloridas e silêncio, o burburinho da boêmia
me chega de longe, mas não é mais alto que a poesia silente que esta rua me diz.
Ao dobrar a minha esquina, uma plaquinha anuncia: "calle sin salida". Hoje entendo a placa, Neruda é caminho sem fim. Daí porque só escrevia com tinta verde. Ele se sabia eterno. Usava a cor da natureza para que suas palavras estivessem vivas e crescessem em nós, como crescem as árvores.
Tem sido assim todo dia,
descobri aqui que a palavra tem cor e da minha janela vejo a poesia germinar em
tinta verde, não há muitas árvores no quarteirão, mas o verde aqui é mais
vívido que em qualquer lugar de Santiago.
Santiago, 02 de janeiro de 2015.
Santiago, 02 de janeiro de 2015.