Para estrear o blog, nada mais providencial do que explicar o nome: "O Aleph" é o título de um conto do Jorge Luis Borges. A escolha do nome não foi despretensiosa, nem por mim, nem pelo Borges, como ele mesmo explica:
"A sua aplicação ao círculo da minha história não parece casual. Para a Cabala, essa letra dignifica o En Soph, a ilimitada e pura divindade; também se disse que tem forma de um homem que assinala o céu e a terra, para indicar que o mundo é o espelho e o mapa do superior; Para a Mengenlehre, é o símbolo dos números transfinitos, nos quais o todo não é maior que qualquer das partes. "
O Aleph é descrito no conto como um ponto de dois ou três centímetros, de onde se pode observar todos os inúmeros pontos do universo simultaneamente. Ao olharmos para o Aleph, vemos a noite e o dia simultaneamente; vemos todos os jardins; todas as mortes e todos os nascimentos; todos os livros, e todas as letras solitárias de cada livro. Vemos um infinito de coisas coexistindo sem se confundir, de forma que a linguagem nos prega uma peça. Como descrever esta visão? Impossível, já que a linguagem nos exige uma sucessividade de descrições, e o Aleph é tudo ao mesmo tempo. Ainda assim, Borges se aventura nesta impossibilidade. Aliás, creio que todos os escritores se aventurem em atravessar este universo nebuloso que é a linguagem, para compartilhar algum pontinho ínfimo do seu Aleph.
Não se enganem, todos eles tem seu Aleph, sua fonte secreta e indizível de observar o universo. É de lá que vem a inspiração dos poetas e as poucas verdades que temos do mundo. Foi através do Aleph que Aristóteles intuiu que a terra não poderia ser plana; que Copérnico viu o sol estacionário; que Van Gogh enxergou a beleza reluzente dos girassóis; que Beethoven descobriu as notas da 9ª; que Pessoa conheceu Caeiro. O Aleph é o que alguns chamam de sopro divino. É o momento que a natureza empresta a alguns mortais, os olhos de Deus, e assim, eles podem enxergar o mundo todo com uma nitidez e um brilho especial. Não preciso dizer que é fado deles compartilhar conosco esta imagem.
Meu Aleph abre-se aqui, espero que as palavras corram rápidas, para acompanhar os olhos. Espero inclusive, que elas não desistam desta árdua missão, e que o espaço se faça como o objeto: rico e ilimitado. Deixo o sugestivo parágrafo final do conto, esclarecendo que na estória, Beatriz é a falecida moça pela qual o narrador sempre teve verdadeira adoração(nada que nos impeça de remeter à Divina Comédia):
"Existe esse Aleph no íntimo de uma pedra? Tê-lo-ei visto quando vi todas as coisas e esqueci-o? A nossa mente é porosa para o esquecimento; eu próprio começo a falsear, sob a a trágica erosão dos anos, os traços de Beatriz.".
"A sua aplicação ao círculo da minha história não parece casual. Para a Cabala, essa letra dignifica o En Soph, a ilimitada e pura divindade; também se disse que tem forma de um homem que assinala o céu e a terra, para indicar que o mundo é o espelho e o mapa do superior; Para a Mengenlehre, é o símbolo dos números transfinitos, nos quais o todo não é maior que qualquer das partes. "
O Aleph é descrito no conto como um ponto de dois ou três centímetros, de onde se pode observar todos os inúmeros pontos do universo simultaneamente. Ao olharmos para o Aleph, vemos a noite e o dia simultaneamente; vemos todos os jardins; todas as mortes e todos os nascimentos; todos os livros, e todas as letras solitárias de cada livro. Vemos um infinito de coisas coexistindo sem se confundir, de forma que a linguagem nos prega uma peça. Como descrever esta visão? Impossível, já que a linguagem nos exige uma sucessividade de descrições, e o Aleph é tudo ao mesmo tempo. Ainda assim, Borges se aventura nesta impossibilidade. Aliás, creio que todos os escritores se aventurem em atravessar este universo nebuloso que é a linguagem, para compartilhar algum pontinho ínfimo do seu Aleph.
Não se enganem, todos eles tem seu Aleph, sua fonte secreta e indizível de observar o universo. É de lá que vem a inspiração dos poetas e as poucas verdades que temos do mundo. Foi através do Aleph que Aristóteles intuiu que a terra não poderia ser plana; que Copérnico viu o sol estacionário; que Van Gogh enxergou a beleza reluzente dos girassóis; que Beethoven descobriu as notas da 9ª; que Pessoa conheceu Caeiro. O Aleph é o que alguns chamam de sopro divino. É o momento que a natureza empresta a alguns mortais, os olhos de Deus, e assim, eles podem enxergar o mundo todo com uma nitidez e um brilho especial. Não preciso dizer que é fado deles compartilhar conosco esta imagem.
Meu Aleph abre-se aqui, espero que as palavras corram rápidas, para acompanhar os olhos. Espero inclusive, que elas não desistam desta árdua missão, e que o espaço se faça como o objeto: rico e ilimitado. Deixo o sugestivo parágrafo final do conto, esclarecendo que na estória, Beatriz é a falecida moça pela qual o narrador sempre teve verdadeira adoração(nada que nos impeça de remeter à Divina Comédia):
"Existe esse Aleph no íntimo de uma pedra? Tê-lo-ei visto quando vi todas as coisas e esqueci-o? A nossa mente é porosa para o esquecimento; eu próprio começo a falsear, sob a a trágica erosão dos anos, os traços de Beatriz.".
Um comentário:
Olá Camila!
os seus dois blog são muito bons!
O Aleph é fantástico!
Os poemas sem indicação de autoria são seus? (Objetos Flutuante, etc.?) Muito lindo!
Parabéns! Está sendo um grande prazer conhecer seus escritos!
Um grande abraço!
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