sexta-feira, 22 de junho de 2007

Objetos flutuantes

Quando a moça vaidosa passava
Desfilando com seus enfeites
Eu via objetos flutuantes

Via o vestido rodado
O balançar dos tecidos
Via as luvas longas
Contornando a cobiça imóvel

Via os brincos pesados
Acompanharem o vento
Via o colar, as pulseiras
E a música dos pingentes

Via os saltos finos
E seus estalares no chão
Via o pó dispersar-se, aos poucos,
A cada pisada

Via a sombra dela
Mas dela, só via a sombra
A pobrezinha perdeu-se de si
E restaram aqueles apetrechos

E lá iam os objetos
Soltos pelo ar
Presos ao corpo ermo da mocinha
O corpo devia ser jeitoso
Mas foi-se embora
Para acompanhar a alma.

Objetos flutuantes
26 de maio de 2006


Ver objetos contornando vazios, é ver, compadecidamente, o ser que vaga, solitário de si. A solidão chega ao grau extremo e se torna "insentida", de forma que os corpos já não sabem mais que neles há só ausência.

Um comentário:

Unknown disse...

Quero iniciar o comentário desse poema dizendo que não é o meu grau de parentesco com a sua autora que comprometerá a minha imparcialidade. Na verdade, nem imaginei que ela - a Camila - estivesse tão avançada assim em suas composições. Vejo em OBJETOS FLUTUANTES um texto rico e belo, tanto em conteúdo como em palavras: consegue exprimir a solidão de modo rico, profundo, alegórico. Espero que nossa autora continue nos brindando com poemas assim.